Veja imagens da casa onde foi filmado ‘Ainda estou aqui’, que recebeu três indcações ao Oscar

Turistas ganharam um novo cartão-postal no Rio. Desde que entrou em cartaz nos cinemas o filme “Ainda estou aqui”, visitantes fazem fotos em frente ao casarão na esquina da Rua Roquete Pinto com a Avenida João Luiz Alves, na Urca, Zona Sul do Rio. O imóvel é um dos principais cenários do longa dirigido por Walter Salles. A obra recebeu três indicações para o Oscar: a melhor filme, o principal prêmio da noite; melhor filme internacional e a melhor atriz, para Fernanda Torres. Ela já ganhou o Globo de Ouro, na categoria melhor atriz de drama, feito inédito para um artista brasileiro.
Turistas visitam o set
Na tela, Fernanda interpreta Eunice Paiva, a advogada que manteve a família de cabeça erguida sem se deixar imobilizar pelo luto após a tortura e morte de Rubens Paiva (1929-1971) nos amargos anos da ditadura. Durante as filmagens, a residência na Urca foi caracterizada como o extinto endereço onde o casal viveu com os cinco filhos, à beira da Praia do Leblon. A locação, agora, virou atração para apaixonados por cinema, que a colocam no roteiro de passeios pela cidade.
Casa é personagem
Reconstituído no cinema, o pouso carioca da família Paiva tornou-se mais um personagem do filme, refletindo alegrias e angústias da história — real, retratada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva.
— A relação entre uma casa aberta e solar, que é uma continuação da praia, e o contraste com as cortinas fechadas depois que Rubens é levado, é uma escolha artística muito simbólica. Sempre houve um desejo de que a locação fosse uma casa de verdade, e que tivesse relação verdadeira com o mar, emulando o pé na areia da casa original em que viveu a família Paiva no Leblon — explica Camila Leal Ferreira, coordenadora de produção da VideoFilmes.
A peregrinação até aquela esquina na Urca durou todo o dia. A coordenadora de produção Camila lembra como, em 2021, quando o diretor Walter Salles disse que queria uma casa no Rio para servir de locação, foi à luta. Em busca de detalhes sobre a casa original, chegou a panfletar pelas ruas do Leblon, pediu acesso ao projeto na prefeitura, visitou o prédio construído no local. Ela também contou com o apoio profissional do pesquisador de imagens Antonio Venâncio e lembranças do próprio Walter Salles: o diretor era amigo da família e, na juventude, participou de muitos encontros na Avenida Delfim Moreira 80, esquina com a Rua Almirante Pereira Guimarães.
— Essa casa de portas abertas, aconchegante e convidativa ficou na memória das pessoas que conviveram com a família. Ouvi isso dos amigos que reconheceram a atmosfera da casa dos Paiva no cenário do filme — conta ela, em entrevista ao GLOBO no início do mês.
O imóvel de 500 metros quadrados na Urca, à venda por R$ 13,9 milhões, cumpriu seu papel com louvor, mas já apresenta aspecto diferente do que exibe no filme. Recuperou detalhes contemporâneos, como a piscina rodeada por um deque, na varanda, e uma mesa de granito à espera da conclusão da reforma na parte interna. A escadaria de madeira que levava aos quartos dos filhos foi substituída por outra, com detalhes em vidro.
Cenários cariocas
Mais recantos do Rio foram revividos durante as filmagens. Em outros 11 bairros, cenários reais foram adaptados para viajar no tempo. Curiosamente, a Confeitaria Manon, aberta no Centro em 1942, teve que ser adaptada para se parecer com a lanchonete Chaika, point de Ipanema que só foi inaugurado em 1962, e abrigar a família durante um programa feliz em torno da mesa.
No Leblon, a Livraria Argumento foi refeita e o pedaço de praia diante da Avenida Delfim Moreira, que era o playground da família, ganhou um toque de época: durante filmagens feitas em meados de 2023, a produção do filme pagou barraqueiros para que eles não tivessem prejuízo ao deixar as areias livres e sem tanto comércio, como eram nos anos 1970.
Ruas da Glória e do Centro, além do Centro Cultural Light, ambientaram as cenas em que os personagens aparecem no trânsito ou no banco. No Túnel Rebouças, foi rodada a cena em que personagens são parados e revistados pela polícia, enquanto coube às antigas instalações do Instituto Municipal Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, abrigar o DOI-Codi, cenário da prisão de Eunice e das torturas a perseguidos como Rubens Paiva. Quem conhece o tradicional Colégio Sion, em Laranjeiras, vai identificá-lo em outra cena.
— Essa história é também uma história do Rio, essa cidade linda e complexa que guarda tanta idiossincrasia. Só podemos imaginar como foi profunda e brutal a perda de Rubens para a família Paiva, e que também enfrentou o luto por deixar o Rio — observa a coordenadora de produção.
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