Brasil: Expansão do plantio da soja é congelada por queda nos preços
Após aumentar a área de plantio da soja por oito anos seguidos, os produtores rurais brasileiros estão colocando os planos de expansão para o ano que vem em compasso de espera. Os motivos: a queda dos preços e o aumento dos custos da cultura mais importante do país.
O preço internacional da soja, que é usada para tudo, de ração animal a bebidas à base de frutas, caiu 36 por cento nos últimos 12 meses depois que os produtores dos EUA, do Brasil e da Argentina provocaram um excesso de oferta em uma corrida pelo domínio do mercado, deixando os estoques no nível mais alto da história.
A agricultura e as atividades relacionadas a ela respondem por cerca de um quinto do produto interno bruto do Brasil e a cultura da soja, avaliada em R$ 93 bilhões (US$ 31 bilhões) tem sido um importante pilar da economia do país, que enfrenta dificuldades. Agora, o grão está ameaçado pelo custo cada vez maior do crédito e pela desvalorização do real.
“Os preços já não justificam a expansão para áreas remotas”, disse Anderson Galvão, diretor da Celeres, uma consultoria para o agronegócio com sede em Uberlândia, Minas Gerais. “A locomotiva está parando”.
O Brasil, maior produtor e exportador mundial de soja depois dos EUA, colherá 95 milhões de toneladas de soja neste ano, um recorde, segundo a Conab, empresa do governo que realiza projeções agrícolas. A diminuição da demanda das exportações colocou os estoques domésticos em níveis recordes, um fator-chave para a queda dos preços.
Ao mesmo tempo, o custo de fertilizantes e pesticidas importados aumentou.
O incremento nos preços e o crédito fácil ajudaram Rodrigo Borghetti, um produtor de soja de 35 anos do Mato Grosso, a expandir seus campos todos os anos desde 2007. Agora ele prevê “um ano difícil” pela frente.
‘Produtores preocupados’
“A maioria dos produtores está preocupada”, disse Borghetti. “As margens serão muito menores”, disse ele. “Não é hora de assumir riscos”.
De 2006 para cá, os produtores expandiram a área de plantio em 11 milhões de hectares, impulsionados pelo aumento nos preços e pela baixa recorde nas taxas de juros. É o maior total entre os grandes países produtores e quase quatro vezes mais que o observado nos EUA. Os embarques, incluindo óleos de cozinha e comestíveis, subiram 56 por cento na última década e, dessa forma, a soja se transformou no principal item comercializado pelo Brasil com o exterior, respondendo por cerca de 14 por cento das receitas do país com exportações.
Agora, os crescentes custos dos empréstimos estão desencorajando o investimento em um momento em que o Brasil enfrenta a taxa de inflação mais alta dos últimos 12 anos.
Os bancos poderão reduzir os empréstimos para os produtores rurais em 20 por cento neste ano segundo a Agroconsult, uma empresa de análises do agronegócio.
“Os produtores terão menos crédito que o necessário para expandir o plantio na próxima safra”, disse André Pessoa, diretor da Agroconsult. “Eles terão que investir suas próprias economias, reduzir a área ou usar menos tecnologia”.
‘Bancos cautelosos’
Os produtores rurais estão tendo dificuldades para conseguir empréstimos para a próxima safra, disse Igor Biancon, fazendeiro de 28 anos de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso. “Os bancos estão reduzindo os limites de crédito e parecem estar adotando uma cautela maior”.
Com menos investimento dos fazendeiros, as vendas de tratores e colheitadeiras caíram 23 por cento nos primeiros quatro meses do ano após uma queda de 17 por cento em 2014, segundo dados compilados pela associação dos fabricantes, a Anfavea.
A Vanguarda Agro SA, segunda maior produtora de soja de capital aberto do Brasil, está colocando seus planos de expansão em compasso de espera, juntamente com os investimentos em novos equipamentos agrícolas, segundo o CEO Arlindo Moura.
“Não é o momento de buscar o crescimento”, disse Moura, por telefone, de São Paulo. “O desafio é manter a área e aumentar a produtividade”.
Fonte: Bloomberg