Com aperto no orçamento, projetos de mobilidade perdem investimentos
O que vai mal sempre pode piorar. Só neste ano, o setor de transportes deve amargar perdas de R$ 3 bilhões em investimentos públicos voltados para melhorias em infraestruturas rodoviária, ferroviária, portuária e aérea em todo o país. A estimativa é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o órgão, a previsão de R$ 14 bilhões aplicados pelo governo federal anualmente nos quatro modais deverá cair para R$ 11 bilhões em 2015. As causas seriam o ajuste fiscal promovido em época de crise econômica e o acúmulo de dívidas dos estados e municípios.
De acordo com o Ipea, somando os investimentos públicos e privados, o setor deverá receber aportes de R$ 30 bilhões neste ano. O valor é apenas 0,55% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e quase se equipara aos 0,6% que vêm sendo investidos anualmente de 2010 a 2014, graças ao aumento da participação privada. Segundo o pesquisador Carlos Campos Neto, que dirigiu o trabalho, outros países emergentes, como Rússia, Índia, China, Coreia, Vietnã, Chile e Colômbia, aplicam 3,4% do PIB — seis vezes mais que o Brasil — a cada ano, para projetos de mobilidade.
“Essa porcentagem é muito baixa. O Brasil precisa multiplicar pelo menos quatro vezes o atual patamar de investimentos em transportes para eliminar os gargalos acumulados ao longo de 25 anos de subinvestimento”, afirma o especialista, ressaltando que, mesmo com os investimentos em transportes saltando de 0,26% do PIB, em 2003, para 0,6% atualmente, ainda há muito a se fazer. “Se o país quer ter disponível uma infraestrutura adequada ao tamanho e à importância de sua economia, tem que investir”, alerta Carlos Campos.
Para ter uma ideia da falta que esses recursos fazem, com R$ 3 bilhões é possível, por exemplo, é possível implantar três sistemas de BRT com a estrutura do Transoeste, que transporta 180 mil passageiros por dia, distribuídos em 57 estações e 51 quilômetros de corredor. Ou construir quase toda a Linha 3 do metrô, prevista para ligar Niterói a São Gonçalo, e orçada em R$ 3,5 bilhões. A obra foi praticamente descartada pelo governo estadual em razão da crise financeira e pode dar lugar a um projeto de BRT.
Na avaliação do Ipea, o cenário vai continuar sombrio em 2016, já que os investimentos deverão subir pouco, chegando a R$ 31,89 bilhões. Como o órgão não considerou os problemas financeiros de empreiteiras envolvidas em casos de corrupção da Operação Lava Jato, os valores podem ser ainda menores até o ano que vem.
Fonte: Brasil Economico