Enquanto brasileiros evitam ações, investidores estrangeiros ignoram recessão

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bolsa-de-valores 2Esta é uma nova reviravolta na maior economia da América Latina, que viu alguns dos maiores altos e baixos entre os mercados emergentes ao longo da última década e meia. Após multiplicarem seu valor por seis entre 2003 e 2010, as ações registraram os piores declínios do mundo, caindo mais de 50% em dólares.

O país mais uma vez está atraindo gestores de recursos internacionais — e o índice de referência, o Ibovespa, está em um mercado altista — depois que a estatal Petrobras divulgou um balanço que vinha sendo atrasado por uma investigação de corrupção, diminuindo as preocupações a respeito de um rebaixamento do rating soberano. Nada disso foi suficiente para os investidores locais, que testemunham em primeira mão o crescente desemprego e o aumento da inflação em meio a projeções de que ocorrerá a pior contração da economia em 25 anos.

“Muita gente tem pensado, ‘o Brasil está barato o suficiente? Será que as expectativas se tornaram muito pessimistas no curto prazo?'”, disse Katherine Weber, diretora de análise da América Latina na BMI Research, em Nova York. “Os investidores locais têm estado muito mais negativos, mesmo antes de o escândalo da Petrobras começar. Quando você passa por essa situação, assiste ao seu desenrolar todos os dias, é muito mais real. Você sente a desaceleração no crescimento”.

Os investidores do varejo responderam por menos de 15% das negociações na bolsa brasileira nos últimos oito meses, terminando 2014 com a participação mais baixa desde 1998, e os estrangeiros ocuparam o vácuo. Dados da bolsa mostram que eles foram responsáveis por mais de 51% das negociações no ano passado, fatia mais elevada desde 1994, pelo menos.

Fluxo estrangeiro

E eles estão se tornando altistas. Os investidores estrangeiros colocaram R$ 7,6 bilhões líquidos (US$ 2,5 bilhões) em ações brasileiras em abril, maior total para um mês desde 2010, pelo menos. Isso empurrou o fluxo estrangeiro líquido deste ano para R$ 17,5 bilhões, valor próximo dos R$ 20,3 bilhões líquidos de todo o ano de 2014, segundo dados da bolsa.

“O Brasil se torna interessante quando o mercado fica de mau humor”, disse Gary Greenberg, que ajuda a gerenciar US$ 1,9 bilhão como chefe de mercados emergentes na Hermes Investment Management Ltd. em Londres, por telefone. “O Brasil realmente tem uma tendência a se recuperar”.

O Ibovespa entrou em um mercado altista no dia 24 de abril, dando um salto de mais de 20% em relação à maior baixa deste ano dois dias depois de a Petrobras divulgar seus resultados atrasados após uma demora de cinco meses.

O aumento das ações veio mesmo depois de os dados do mês passado mostrarem que a confiança industrial atingiu uma baixa recorde e que o desemprego chegou ao nível mais alto em três anos, e surge após o Banco Central elevar a taxa básica de juros de referência pela quinta reunião consecutiva.

Crescimento chinês

O Brasil, que é um exportador de commodities e um país dependente de financiamento externo, é “vulnerável” às preocupações com o crescimento chinês e às decisões do Federal Reserve (Fed) sobre suas taxas, disse Maarten-Jan Bakkum, estrategista sênior de mercados emergentes da NN Investment Partners em Haia, por telefone.

“A perspectiva para o Brasil continua sendo muito ruim”, disse Bakkum.

Desvalorização do real

Enquanto os investidores locais e as empresas lidam com os efeitos da recessão em uma base diária, os gestores de recursos internacionais observam perspectivas mais de longo prazo para a economia em um momento em que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, promete reforçar as contas do governo.

A queda de 12% do real em relação ao dólar neste ano está transformando as ações brasileiras em um negócio melhor para os investidores, que estão dispostos a esperar passar a crise e têm expectativa de que os lucros se recuperem, segundo Julian Mayo, codiretor de investimento da Charlemagne Capital Ltd. em Londres.

“O Brasil está começando a parecer atrativo”, disse Mayo, que ajuda a gerenciar US$ 2,3 bilhões em ativos de mercados em desenvolvimento, em entrevista. “Existem alguns negócios muito bons, gestões muito boas e empresas que também têm se saído muito bem em ambientes difíceis.”

Fonte: Bloomberg

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