Mais um presidente balança no Detran-RJ
Pressões políticas de deputados da Alerj tentam derrubar o segundo gestor do Departamento de Trânsito do estado em menos de um ano
A situação do presidente do Detran-RJ, Marcelo Bertolucci, é praticamente insustentável. Segundo este blog apurou junto a fontes da própria autarquia, sua saída deve ser formalizada até dezembro. No cargo há apenas três meses, Bertolucci, delegado da Polícia Federal, substituiu Luiz Carlos das Neves em uma transição tumultuada. Sua gestão não agrada a alguns setores da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Bertolucci tem sido um entrave a nomeações políticas e tentativas de contratação de prestadores de serviços apadrinhados por deputados estaduais. Com a sua queda, o mais provável é que a palavra “esquema” volte com tudo aos corredores do Detran-RJ.
Em agosto, já se sentia que o processo de higienização do órgão, tão alardeado pelo governador, durava pouco. A substituição de Luiz Carlos das Neves chegou a desencadear uma forte reação na cúpula da autarquia. O blog noticiou na época que praticamente toda a diretoria do órgão assinou uma carta conjunta, distribuída aos funcionários, repudiando a substituição de Neves, na qual os dirigentes já apontavam que a saída se dava por pressão política da Alerj.
Vice de Luiz Carlos das Neves, Bertolucci assumiu a presidência. A solução de continuidade, no entanto, desagradou a base aliada de Witzel. Em setembro, Jogo Sujo antecipou que o governador era cobrado por deputados da Assembleia Legislativa para substituir Bertolucci. A gestão de Neves e de Bertolucci notabilizou-se pelo processo de reestruturação e higienização do Departamento de Trânsito do Rio.
Deputados citados em delações da Lava Jato estariam por trás das mudanças da diretoria no órgão
Segundo funcionários do próprio Detran-RJ, os deputados fluminenses cobram de Witzel mais espaço nos gabinetes. O deputado estadual Gustavo Tutuca (MDB), por exemplo, teria influenciado na indicação de Gabriel Pinton para a Diretoria de Identificação Civil.
A dança das cadeiras tem sido constante. Rodrigo Freitas Thomé, por exemplo, não ficou sequer um mês na Diretoria de Tecnologia da Informação e Comunicação. Entrou no início de setembro e saiu no fim do mesmo mês, substituído por Pedro Thompson Vasconcellos. Thomé, por sinal, tinha “pedigree”. Foi indicado pela ex-diretora de Registros do Detran-RJ Carla Adriana, presa no ano passado no âmbito da Operação Furna da Onça, que investiga os “mensalinhos” da Alerj. Na ocasião também foram detidos o então presidente da estatal, Leonardo Jacob, e o ex-presidente Vinícius Farah.
O Pastor Everaldo, presidente do PSC, mesmo partido de Witzel, busca atrair siglas para a base aliada do governo na Alerj — e o Detran-RJ seria muito útil para seus objetivos. Além do próprio Everaldo, do presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), e do deputado Gustavo Tutuca, Dr. Deodalto (DEM) é outro parlamentar que tenta influenciar a dança das cadeiras no Departamento de Trânsito. Dança essa que parece não parar na gestão de Witzel.