‘Witzel diz que quer uma reforma administrativa no governo’, afirma chefe da Casa Civil exonerado

Exonerado ontem à noite em edição extraordinária do Diário Oficial, o ex-chefe da Casa Civil André Moura (PSC) reconhece a existência de “conflitos internos” no governo de Wilson Witzel. Admite, também, divergências com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, quanto ao “direcionamento do governo”. Moura, porém, disse ao GLOBO que, quando o governador justificou sua exoneração, afirmou que pretende fazer uma reforma administrativa no governo, com um pacote de mudanças. O GLOBO apurou que, em meio à crise política, as mudanças buscam recompor a base na Alerj, abrindo mão de alguns dos antigos aliados e buscando novos.
— Sempre existiram conflitos internos. Não adianta negar que sempre tive divergências com o secretário Lucas (Tristão) quanto ao direcionamento do governo. Se foi esse o motivo da minha exoneração? Essa pergunta tem que ser feita ao governador. A mim, o governador disse que pretende fazer uma reforma administrativa, um pacote de mudanças. E eu respeito a decisão dele e agradeço pela oportunidade que me deu — diz Moura, referindo-se a um projeto do governador já conhecido nos corredores do Palácio Guanabara de “refundar” sua gestão após denúncias de corrupção em áreas como a Saúde. O ex-chefe da Casa Civil não quis entrar em detalhes sobre quais seriam as divergências com Tristão.
— Saio com o sentimento de ter cumprido minha missão. Durante o meu período no governo, não perdemos na Assembleia Legislativa nenhuma votação que fosse importante. Cuidei da pauta política e também fiz um choque de gestão no Palácio Guanabara, ajudando a arrumar o orçamento do estado — disse Moura. O ex-secretário, que construiu sua carreira poíitica em Sergipe, segue amanhã para o estado do Nordeste, onde vive sua mulher.
Troca na liderança do governo
O GLOBO apurou que Witzel, em meio à crise, aposta suas fichas em uma recomposição na Assembleia Legislativa, buscando novos aliados e abrindo mão de alguns dos antigos. No novo desenho, o presidente da Casa, André Ceciliano (PT), deixa de vez de ser visto como aliado do Palácio Guanabara. O petista, que já foi muito próximo do governador, tem ficado cada vez mais insatisfeito pelo fato de Witzel manter Tristão no governo.
Nesta sexta (29), após o líder do governo na Alerj, Márcio Pacheco (PSC), entregar o posto, Witzel convidou Jair Bittencourt (PP), vice-presidente da Alerj, para assumir a função. Nos bastidores, comenta-se que o governador prometeu apoiar Bittencourt para disputar a presidência da Alerj contra Ceciliano no ano que vem. O GLOBO pediu um posicionamento ao Palácio Guanabara sobre o assunto.
Atrito envolvia a Assembleia Legislativa
Em abril, o GLOBO publicou reportagem sobre o racha no governo Witzel. E informou que André Moura e Lucas Tristão estavam em rota de colisão. Aliados de Tristão afirmavam que Moura não se empenhava para livrar o secretário de Desenvolvimento Econômico da fúria do presidente da Alerj, André Ceciliano (PT). E que Moura era complacente com pedidos de deputados que buscavam ampliar espaços no governo. Procurado pela reportagem na ocasião, o então chefe da Casa Civil respondeu:
“Quem fala isso não conhece a minha relação com o parlamento. Quem acha que a função de um governo é brigar com o parlamento, não respeita a democracia.”
Com a saída de Moura, aumenta o apetite da Alerj de aceitar pedidos de impeachment de Witzel que chegaram esta semana à mesa-diretora da Casa. Protocolado hoje, o ofício do partido NOVO pede não só o afastamento de Witzel mas também do secretário Lucas Tristão.
Fonte: O Globo